A revolução da humanidade e seus fenômenos sociais retratam em muitas facetas as reações das massas, suas indagações, “erros e acertos” que nortearam e “basificaram” nossa atual sociedade ..
Quem nunca leu ou viu alguma discussão sobre o melhor ensino, melhor política, melhor religião melhor time?
As discussões fazem parte intrinsecamente do cotidiano de cada um de nós e esse texto retrata o resumo de um pequeno espaço de quase cem anos sobre o desenvolvimento do pensamento vocal e serviu de base pra tudo que falamos hoje sobre Técnica Vocal
Empirismo vs Revolução Científica pós Garcia
para ler um pouco sobre quem foi Manuel Garcia II leia o texto Um olhar Social sobre a Técnica Vocal
Vamos pro Figth
Ao final do Séc XIX uma demanda absurda de novos professores de Canto e alguns cientistas vocais surgiram no cenário vocal, promovendo uma forte disputa e discussões que levaram um forte embate literário ( sorte a nossa rs) pois os escritores usavam seus livros para defender suas teses, verdades e métodos
De um lado estavam os Professores que vou chamar de Empíricos, que ensinavam canto através da experiência pessoal e histórica( ensinamentos do bel canto), e do outro lado os novos professores ou até os professores que migraram para o ensino do canto usando noções de anatomia e passaram a ensinar canto trazendo termos de fisiologia nas aulas e enfatizando aos alunos que era muito importante conhecer anatomia para um melhor desenvolvimento vocal
O Embate !
David Alva Clippinger (defensor do antigo método) em 1919 escreveu uma forte crítica em seu livro Practical Talks on Singing dizendo:
“Sabe-se mais sobre o mecanismo vocal hoje do que em qualquer outro momento da história do mundo, e quem se atreve a dizer que o ensino da voz foi melhorado por ele? O ensino de voz é mais preciso agora do que há cem anos atrás? A invenção do laringoscópio adicionou algo de valor ao equipamento do professor de voz? Não! “
essa declaração foi o estopim pra disputa começar e isso resultou em um apanhando de livros que alimentam e ilustram nossa história do desenvolvimento vocal
a Resposta
Os novos Professores, cientistas vocais passaram a rechaçar o ensino do passado dizendo que os métodos eram duvidosos
Douglas Stanley Cientista Vocal talvez foi o escritor mais duro, inflexível e inteligente dos antigos, suas obras era fortes e seus conhecimentos foram disseminados por seus discípulos dentre eles Chadbourne 1950 escreveu em resposta aos antigos métodos
Se as obras de Stanley fossem comparadas com os antigos mestres, como Porpora, Pistocchi, Bernacchi, Mancini. . . Ficaria claro como eram ilógicos e ineptos os ensinamentos desses “mestres”
White em 1950 disse:
“Os Planos que estamos fazendo vão destronar a deusa do empirismo que por muito tempo dominou a arte, mas agora com a Ciência iremos estabelecer as regras que de fato funcionam”
A história é longa e será assunto de outro texto, mas a verdade é que ambos os lados concordavam com algo em comum
todos sustentam que o sucesso final dos cantores repousa em algum grau em sua capacidade de coordenar, mecanicamente e conscientemente, os movimentos de seu aparato vocal
Discussões à parte minha opinião descansa no equilíbrio e levanto algumas questões
Em primeiro lugar : O Bel Canto não tinha Valor ?
o pessoal que ensinava canto nos séculos passados ? e os cantores que se desenvolviam sem o advento científico ?
Será que podemos tocar no passado e ferir a honra dos grandes professores de canto que nada sabiam de anatomia vocal ?
definitivamente não pois o canto em si não depende necessariamente de um conhecimento anatômico, cientifico para acontecer, a prova disso são os cantores que cantam e muito bem sem nunca pisarem em uma aula de Fisiologia do Exercício ou Estúdio de Técnica Vocal, ou passarem nas mãos de um fonoaudiólogo especialista em voz
de onde então surge essa ” canto bom” ? onde nasce essa facilidade de uns antagonizando outros?
em outro texto que escrevi O Dr. Anders Ericsson teorizou as 10.000 horas e faz muito sentido, pois os cantores que são “bons” sem nunca estudarem com alguém, com certeza praticaram – indiretamente – por anos .. em casa, igreja mesmo que tal prática não fosse algo com regras, ( eu mesmo comecei assim, treinando sem saber o que e o porque) mas o simples fato de estar no meio estar no mix ajuda e muito no desenvolvimento proprioceptivo, percepção auditiva, influência do meio e prática ( ainda que não sejam todos) que se desenvolvam bem sem aulas, tem muita gente que caminha a passos largos como cantor, sem nunca ter pisado em uma Escola e isso deve ser valorizado também
embora eu tenha fortes inclinações para o ramo científico e prego que o Canto e o Ensino do mesmo deve ser consciente preciso concordar que
o Cantor não precisa conhecer anatomia pra desenvolver sua voz e isso a história já provou em Séculos
Em segundo lugar : Não é preciso conhecer Fisiologia então ?
Calma haha ; eu faço um paralelo com o cientista Myer e acredito que nesta era de progresso nas artes e nas ciências, não há uma boa razão para que o cantor/professor de canto, não compreenda o mecanismo do aparelho vocal pois conhecimento nunca é demais.
Quando você conhece mais sobre o aparato vocal teu progresso pode ser mais palpável, quando você entende que tal colocação vocal depende de certos ajustes de certos músculos você literalmente “pega” na voz… é algo “sinestésico” sem contar que você vai direto ao ponto, sem intermediários;
quando você conhece mais sobre a voz, o teu treino vocal é direcionado focando exatamente aonde tem que focar .. se por acaso a tua “voz de peito” é muito soprosa existe um motivo pra tal, e esse motivo pode ter várias razões e se você der um passo em direção ao conhecimento vocal, com certeza teu treino será mais dinâmico e Consciente!
Em terceiro lugar : Equilíbrio é a Palavra Chave
Cada pessoa tem uma singularidade infinita dentro de si, tem gente que não vai se adaptar com termos, ou até nem vai se interessar sobre, mas ao mesmo tempo quer cantar e fazer aulas de canto para o resto da vida, e o professor de canto que prega o conhecimento científico terá de lidar com isso ..
eu tenho alunos, cantores famosos do cenário sertanejo que não se interessam por conhecer fisiologia e td bem … eu como Vocal Coach conhecendo o caminho da voz no corpo, vou direcioná-los cientificamente, mesmo que eles não mergulhem na Ciencia
por outro lado tenho muitos alunos que gostam, se interessam por conhecer mais sobre o aparelho vocal tanto que alguns alunos que me conheceram na adolescência hoje são professores de Técnica Vocal, outros se formando em Fonoaudiologia etc …
o complicado seria alguém entrar na tua sala de aula com desejo de conhecimento e o professor não ter nada a oferecer
de fato a Ciência chegou , tardou mas chegou , chegou, bateu e ficou e vai ficar e dar as mãos ao progresso não dói ( se bem que pra alguns dói muito) pois bate no ego, conheço muita gente da área que não aceitam a mudança, não aceitam o progresso e até os entendo, pois muitos dos novos se tornaram donos da verdade e rechaçaram as tradições por isso volto ao ponto Equilíbrio !!
concluo que é legal olhar pro nosso trabalho e ver que a ciência não está franzindo a testa com desaprovação !
Um comentário em “Ciência Vocal vs Experiência”